ME11

POR
THIAGO
CURY

Na 11ª edição, o Música Estranha Festival ultrapassa os limites da música convencional, trazendo experiências que conectam a criação sonora a reflexões atuais, sobre o tempo, sustentabilidade, processos de cura e exploração sensorial. Em meio a uma programação que valoriza o híbrido e o experimental, três eixos principais orientam a curadoria: a centralidade do violoncelo, a experiência imersiva audiovisual e a criação que interroga questões sociais e existenciais, todos sob o prisma de uma criação autoral individual.

Em 2024, o festival se apresenta em formato compacto, porém não menos representativo: 7 artistas, 2 oficinas e 1 palestra compõem a programação que irá se dividir entre o Theatro Municipal de São Paulo e o Sesc Avenida Paulista, estendendo-se em uma importante linha geográfica da cidade.

VIOLONCELO COMO NÚCLEO DE INVENÇÃO SONORA

Neste ano, o violoncelo é o ponto central de uma programação que valoriza tanto as raízes clássicas do instrumento quanto suas reinterpretações contemporâneas. Abrindo a programação, Fabio Presgrave — violoncelista formado pela Juilliard School — apresenta um programa especial de sete peças, incluindo a estreia mundial de “Prelúdio dos Seres Animados”, de Silvio Ferraz. Em diálogo com nomes de referência como Caroline Shaw, Kaija Saariaho e o agricultor e compositor potiguar Felinto Lucio, Pregrave traz ao palco novas possibilidades do violoncelo e conta com a participação da percussionista Marcia Fernandes e da clarinetista Jéssica Gubert.

Explorando a improvisação e o tempo não-cronológico, Luca D’Alessandro e Thayná Oliveira conduzem uma performance que nasce de uma colaboração artística a distância. A dupla utiliza o violoncelo como veículo para explorar os potenciais de cura e experimentação sonora, desvelando camadas de tempo e espaço que se entrelaçam através do encontro, no qual D’Alessandro traz à tona sua pesquisa sobre processos criativos através das travestilidades.

IMERSÃO AUDIOVISUAL E O IMPACTO SENSORIAL DE LUZ E SOM

O segundo eixo da curadoria traz uma imersão completa na união de som e imagem, onde luz e projeção atuam como prolongamentos sensoriais da música. O duo MXM, formado pela artista da luz Mirella Brandi e pelo músico e engenheiro de som Muep Etmo, exibe a performance VORTEX na Cúpula do Theatro Municipal. Esta obra, parte da série “Piano & Light”, estreou há pouco no English Theatre em Berlim e encerra o festival com uma experiência visual e auditiva que busca desconstruir e reconstruir percepções.

Também no campo da arte sonora imersiva, com uma abordagem mais pop, Laura.aLL (Laura Leiner, conhecida com seu projeto M.i.p.V – músicas intermináveis para viagem) celebra 20 anos de trajetória com uma performance única no festival, lançando o single “In Tarset” de seu próximo álbum. Conhecida por um estilo que funde improvisação, noise, eletroacústica e rock psicodélico, Laura traz ao palco a baterista Pitchu Ferraz. Mirella Brandi também colabora no design de luz criando um ambiente audiovisual hipnótico ideal para viajar nas músicas intermináveis de Laura.

REFLEXÕES EXISTENCIAIS E SOCIAIS ATRAVÉS DA CRIAÇÃO SONORA

O terceiro eixo do Música Estranha explora criações que lidam com temas urgentes como o tempo, sustentabilidade e processos pessoais. Em uma jornada sonora criativa, meditativa que é tanto experimental quanto melódica, Joana Queiroz explora em Tempo sem Tempo o fluxo e a inconstância temporal através de loops e camadas de clarone e clarinete. Acompanhada por imagens da artista visual Taís Triveni, Joana propõe uma experiência sensorial profunda, onde música e imagem conduzem o público a novas percepções do tempo.

Rafaele Andrade, compositora e multi-instrumentista, completa o eixo de reflexões com sua criação inovadora, o Knurl — um instrumento sustentável construído através da tecnologia de impressão 3D, utilizando materiais biodegradáveis. Ao unir a tradição da música clássica à eletrônica e popular, o Knurl apresenta uma proposta única de consumo consciente e produção sustentável, ecoando a necessidade de uma arte mais alinhada com os desafios de nosso tempo.

Em sua 11ª edição o Festival promove reflexões artísticas individuais sobre o papel da música e das artes sonoras em nossa percepção de mundo, a partir de abordagens únicas e criativas sobre questões que afligem nossa sociedade hoje.

Fazer o festival acontecer esse ano foi tarefa desafiadora num ambiente cultural pós pandemia ainda de terra arrasada, mas que enfrentamos de frente – equipe, artistas e parceiros – a quem agradecemos muito, em especial ao Sesc São Paulo e Theatro Municipal de São Paulo pelo apoio fundamental para a realização do festival, e à Redecard pelo patrocínio através da Lei Rouanet de incentivo à cultura.

FICHA TÉCNICA
DIREÇÃO E CURADORIA THIAGO CURY
COMUNICAÇÃO GILBERTO MONTE 
PRODUÇÃO EXECUTIVA LIA MARTINS
REDATORA PÉROLA MATHIAS
COORDENAÇÃO DE LUZ E IMAGEM MIRELLA BRANDI E MUEP ETMO
ASSISTÊNCIA DE LUZ E IMAGEM GIORGIA TOLAINI
TÉCNICO DE SOM BETO SANTANA
DESIGN GRIDA IANSÃ NEGRÃO + ISABELLA CORETTI 
ENSAIO FOTOGRÁFICO LIA CUNHA | disCURSO do rio
SITE RAFAEL PUGA
REGISTROS EM ÁUDIO E VÍDEO EDUARDO DUWE
COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVA GILMAR DO NASCIMENTO

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS À ESTAÇÃO DA LUZ, ON PROJEÇÕES E NÔMADE FILMES PELO APOIO.